terça-feira, 14 de junho de 2011

NEM BAMZO, NEM BAMZÉ - UMA REFLEXÃO SOBRE A PSICOLOGIA POSITIVA E RESILIÊNCIA: FOCO NO INDIVIDUO E NA FAMILIA ( MARIA ANGELA MATTAR YUNESI) 1

O povo negro escravizado e submetido a condições sub-humanas era tratado como Bárbaros. Entretanto haveremos de entender que em tais condições, suportavam muitos medos, uma vez que permanentemente, via suas existências ameaçadas. Diante da possibilidade de morrer de fome e de frio ou de serem submetidos as extremas torturas. Para enfrentar essa situação, o cérebro programou duas alternativas, a fuga ou o ataque. “Efeito de Neandertal”. Ainda assim não obstante as condições impeditivas, as soluções criativas, sempre se fizeram presentes. Como temos reveladas nas danças, como a dança rural do Sudeste, de origem Banto, conhecida como jongo/Caxambu, que às vezes exigia um reagir relâmpago, improvisando versos diante de qualquer ameaça. ex:“catiguele está me olhando”, ou seja modificando os versos, para dizer que, o feitor estava observando, e não a espécie de primada do mesmo nome. Sempre se fizeram presentes uma secreta forma de comunicação entre os negros escravos. No que diz respeito ainda a possibilidade de solução criativa, “na aplicação eficiente de recursos disponíveis”, no enfrentamento da fome temos, a feijoada. Hoje as novas formas de ameaças são a invisibilidade, um não existir, o que implicou em permanentes lutas dos movimentos sociais negro objetivando provar o óbvio, negado pelas elites, que o racismo existia. Como hipocrisia tem limite. Quando o movimento negro passou a trabalhar com números, estatísticas, dando conta da cruel exclusão e abismo entre negros e brancos. Começou a se desenhar uma agenda política, voltada a discussão dessa mesma óbvia realidade. Todavia, caminhanhos a passo de tartaruga. Mas quero crer que, temos hoje tecnicamente definidas, novas soluções criativas. Certamente não tão novas assim, que deverão ser vista como de grande valor na construção de uma identidade negra positiva. O negro não teve sua identidade esfacelada porque nunca deixou com que as cruéis vicissitude impusesse um total bloqueio pelo medo. Estou falando da RESILIÊNCIA, que nas diversas formas como é definida podemos dizer que é o povo negro especialista:
    “resiliência é uma capacidade universal que permite que uma pessoa, grupo ou comunidade previna, minimize ou supere os efeitos nocivos das adversidades” (Grotberg, 1995, p. 7). (pág.8)
    “invulnerabilidade às adversidades” (pág.10) 
    “habilidade de superar as adversidades”. (pág.10)
     O povo negro não quer saber quem envernizou a asa da barata, o que não podemos é ser responsabilizados  pelo critério hipócrita de divisão populacional por cores. Tais afirmações nos deixarão sempre no campo da superficialidade. O que sabemos é que, MISÉRIA TEM COR NO BRASIL!  
Fonte pesquisada em 14 de junho de 2011.http://www.msmidia.com/ceprua/artigos/rescap2.pdf

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Racismo já custou ao Brasil condenação na OEA Jornal do Brasil - 30 de setembro de 2009

O Brasil foi um dos primeiros países a ratificar a Convenção Internacional pela Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial, em 27 de março de 1968.
Quase 40 anos depois, no dia 21 de outubro de 2006, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos condenou o Brasil por racismo, no episódio conhecido como caso Simone.
Em 1997, em São Paulo, Simone André Diniz procurava um emprego e encontrou uma oferta para uma vaga de empregada doméstica em um anúncio de jornal. O anúncio, no entanto, destacava como uma das exigências que a candidata fosse de preferência branca. Quando ligou para se candidatar a vaga e informou que era negra, Simone ouviu que não preenchia os requisitos.
O caso foi denunciado à Delegacia de Investigações de crimes raciais, onde foi instaurado inquérito policial. Mesmo com o anúncio como prova e o próprio depoimento da contratante confirmando o fato, a denúncia foi considerada inconsistente. Em seguida, o Ministério Público do Estado de São Paulo requereu o arquivamento do inquérito sob o argumento de que o caso não configurava crime de racismo.
A Justiça acolheu o pedido e arquivou o caso, que foi denunciado pelo Instituto do Negro Padre Batista e pelo Centro pela Justiça e pelo Direito Internacional à OEA.
Recomendações No relatório final, além dos reparos à vítima, a OEA recomendou que o Brasil adotasse e instrumentalizasse medidas de educação dos funcionários de Justiça e da polícia a fim de evitar ações que impliquem discriminação nas investigações, no processo ou na condenação civil ou penal das denúncias de discriminação racial e de racismo. Recomendou também que o país promovesse um encontro com representantes da imprensa brasileira com objetivo de firmar um compromisso para evitar a publicidade de anúncios de cunho racista. O governo do estado de São Paulo instituiu um grupo de trabalho para estudar o cumprimento das recomendações.
A pesquisa Direitos Humanos e as práticas de racismo, de Ivair Augusto dos Santos, destaca que relatórios internacionais já constataram a existência de racismo no Brasil mesmo antes da condenação do caso Simone.
Como exemplo o pesquisador lembra a visita, em 2005, do relator especial sobre Formas Contemporâneas de Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância das Nações Unidas.
Segundo Santos, ao final da missão o emissário da ONU constatou que não era fácil tomar conhecimento do racismo no Brasil porque a evolução das mentalidades é análoga a das declarações oficiai.
Ficam ocultas pelo discurso da mestiçagem biológica e cultura até tornarse invisível. O relator da ONU registrou que a população negra no Brasil que continuou sendo vítima de racismo e discriminação é a mais desfavorecida.
fonte pesquisada em 13 dejunho de 2011 http://migre.me/52MyI

OEA condena Brasil por não punir caso de racismo

A Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA (Organização dos Estados Americanos), em uma decisão inédita, condenou o Brasil em um caso de discriminação racial. Segundo o organismo internacional, o Estado brasileiro violou artigos da Convenção Americana de Direitos Humanos e da Convenção Racial ao permitir que um caso de racismo fosse arquivado sem a abertura sequer de uma ação penal. É a primeira vez que um país do continente é responsabilizado pelo sistema interamericano de direitos humanos pelo crime de discriminação racial. Segundo o relatório da comissão da OEA, publicado no começo do mês, o Estado brasileiro "falhou ao não cumprir a sua obrigação", definida em convenções internacionais as quais assinou, de garantir a investigação de um caso de racismo.
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No dia 2 de março de 1997, uma amiga de Simone viu um anúncio de classificados publicado na Folha. A vaga era para empregada doméstica. Na quarta linha do anúncio, o principal requisito da candidata: "preferência branca".
Simone ligou para o número de telefone contido no anúncio e a exigência foi confirmada. Quando perguntaram a sua cor, ela disse que era negra e tentou argumentar. Foi informada, então, que não tinha jeito: não preenchia os requisitos.
Ela desligou o telefone. Na seqüência, ligou para a subcomissão do negro da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de São Paulo. Iniciava ali uma campanha que chegou a reunir mais de cem entidades de classe, de direitos humanos e do movimento negro.
Simone denunciou o caso à polícia e foi aberto um inquérito. Na delegacia, a autora do anúncio confirmou a preferência por uma candidata branca. Disse que fez a exigência porque uma ex-empregada, negra, tinha maltratado os seus filhos, que estariam traumatizados.
A empregadora, porém, não registrou na polícia a suposta agressão de seus filhos. A doméstica que teria maltratado as crianças nunca foi ouvida.
Fonte: pesquisada em 13 de junho de 2011.http://migre.me/52Mjw

sexta-feira, 10 de junho de 2011

ESCRAVIDÃO E EXCLUSÃO: A DURA SINA DO NEGRO NO VALE DO PARAÍBA Hamilton Rosa Ferreira

O elemento negro, ao lado da terra e do café, constitui-se num dos alicerces mais importantes de sustentação econômica do Vale do Paraíba. Afinal, desde as duas primeiras décadas do século XIX, quando se deu a implantação da cafeicultura na região e após 1830 quando se tornou a atividade econômica dominante, verificamos o aumento vertiginoso do emprego do braço escravo à medida que a lavoura ocupava os morros do Vale. E mesmo em 1848, dois anos antes de se proibir o tráfico negreiro, ainda tivemos o desembarque de 60.000 cativos!
Ao chegar da África, já na condição de “coisa do senhor”, o negro era integrado à “civilização” através do batismo e do trabalho servil. Trabalho este que podia ser desenvolvido na casa grande ou na lavoura. Mas escravo doméstico ou escravo de eito, o certo que uma dura rotina de trabalho e sofrimento o acompanhariam a partir dos 7 anos e se estenderiam por toda a sua vida.
Terminada a labuta diária, que iniciava-se às 5 horas da manhã e encerrava-se às 17 horas, os negros eram recolhidos à senzala. Nessa construção térrea e retangular, em que homens e mulheres ficavam separados, só existiam algumas camas de palha, tamboretes para sentar e baús, onde cada escravo guardava as duas camisas e duas calças ou saias, que recebia anualmente. Sua dieta diária era muito pobre, geralmente composta de banana, feijão, mandioca, carne seca, angú e abóbora. Qualquer ato de desobediência ou falha no cumprimento das tarefas era suficiente para que o proprietário mandasse castigar o escravo. Mas, muitas vezes, os escravos reagiam contra os maus tratos. Foi o que ocorreu em dezembro de 1862, na então Vila do Embaú, quando o escravo Benedito pôs fogo na casa do seu senhor, Manoel Galvão de Siqueira, e o matou a foiçadas quando ele saiu da casa em chamas. Benedito foi preso e alegou que o patrão havia matado sua esposa barbaramente e tirado com torquês os dentes dele e seus companheiros escravos por terem chupado cana sem autorização. Ele foi condenado à forca, mas acabou morrendo na prisão.
O pior é que nem mesmo com a abolição em 1888, quando foram equiparados jurídico e politicamente aos brancos, os negros não conquistaram o direito de serem cidadão plenos, pois o voto era censitário – somente os que possuíam uma certa renda anual podiam votar e ser votados. E, ironia cruel, a Lei Áurea retirou do negro a sua exclusividade como mão-de-obra, passando o mesmo a ter de concorrer no mercado de trabalho braçal com o branco pobre e com o imigrante recém-chegado. Sem qualificações profissionais distintas da labuta diária da terra, pretendendo assumir plenamente a sua condição de homem livre e se recusando a aceitar trabalhos sob a supervisão direta de outros, que lhe lembrava o trabalho escravo, o negro foi taxado de incapaz e os fazendeiros instalaram uma nova configuração de cor em relação ao trabalho: o negro era associado ao trabalho escravo e o imigrante ao trabalho livre e assalariado. A exclusão social era o legado dos negros após anos de sofrimento e árduo trabalho. Eliminar essa dívida social é um imperativo que se impõe a todos !
Fonte pesquisada em 11 de junho 2011 http://migre.me/51Xv1

Direitos de Escravos: maus-tratos e jusnaturalismo em petições de liberdade (América portuguesa, segunda metade do século XVIII e início do XIX) Priscila de Lima (1)

O chocante documento publicado por Luiz Mott, em 1984, revela os extremos a que podiam chegar os castigos impostos por senhores aos escravos na América portuguesa do século XVIII[*1]. No auto da denúncia feita à Inquisição contra o mestre de campo Garcia Dávila Pereira de Aragão - homem muito rico, pertencente a uma das famílias nobres da capitania da Bahia - encontram-se descritos minuciosamente os vários atos de crueldade imputados a seus escravos. Ao escravo Jerônimo de oito anos, por exemplo, "[...] depois de o esbordoar com uma tábua, deixando-o quase morto [...] o mandou açoitar rigorosamente [...] mandando depois por-lhe uns grilhões nos pés e uma argola de ferro no pescoço." Em seguida, deixou-o pendurado com a cabeça para baixo e novamente o açoitou com rigor, quase o levando a morte[*2].
fonte pesquisada em 11 de junho de 2011http://migre.me/51XjT

Instrumentos utilizados para a tortura

Artur Ramos, num artigo pioneiro publicado em 1938 e posteriormente analisado e publicado por Silvia Hunold Lara (1988), empreendeu uma classificação dos instrumentos de castigo e suplício dos escravos, dividindo-os em instrumentos de captura e contenção, instrumentos de suplício e instrumentos de aviltamento para prender o escravo.
Vários foram as formas e os instrumentos utilizados para castigar os escravos faltosos e mantê-los obediente e temerosos. Como instrumentos destinados à captura e contenção de cativos havia as correntes, (dentre as correntes estão a gonilha[4] ou golilha, a gargalheira), o tronco e o vira-mundo, as algemas, machos, cepo e a peia[5].
Apesar de serem classificados como instrumentos de captura e contenção podiam tais utensílios transformar facilmente em instrumentos de grandes tormentos, pois ao provocarem a imobilidade forçada tornava-se um verdadeiro suplício. Além dos instrumentos já citados, existiam também as máscaras de flandes, os anjinhos, o bacalhau, a palmatória e o ferro para marcar com inscrições o corpo do escravo faltoso (APOLINARIO, 2000, p. 102).
Os cativos aprendiam a conhecer cada um desses objetos, destinados a suplicá-los, desde a mais tenra idade como também saber que qualquer falta cometida, seriam castigados por tais instrumentos (NEVES, 1996, p 91).
A série de instrumentos de tortura utilizados nas práticas inquisitoriais desafiava a imaginação da consciência mais dura. O tronco[6] era um velho instrumento usado em muitos países, para os condenados de todas as raças, e na própria África os negros o empregavam com fins penais. Depois da abolição da escravatura no Brasil, o tronco ainda foi empregado em muitas fazendas, para a prisão e castigo de ladrões de cavalo e de outros delinqüentes. Seu objetivo era imobilizar o escravo obrigando-o a posições mais ou menos forçadas, torturava-se pelo cansaço, pela impossibilidade de se defender dos insetos que o atacavam, pelo desgaste físico e moral (LARA, 1988, p. 75).
O cepo consistia num grosso tronco de madeira que o escravo carregava à cabeça preso por uma longa corrente a uma argola que trazia no tornozelo (LARA, 1988, p. 73-74).
Nesta série de correntes e argolas, está o libambo. Extensivamente é toda espécie de corrente que prendia o escravo e, neste sentido, está descrito por vários historiadores. No Brasil, porém, o libambo teve uma significação restrita: serviu para designar aquele instrumento que prendia o pescoço do escravo numa argola de ferro, de onde saía uma haste longa, também de ferro, que se dirigia para cima ultrapassando o nível da cabeça do escravo. Esta haste ora terminava por um chocalho, ora por trifurcação de pontas retorcidas.
Os anjinhos[7] eram instrumentos de suplício que prendiam os dedos polegares da vítima em dois anéis que comprimiam gradualmente por intermédio de uma pequena chave ou parafuso (NEVES, 1996, p. 91).
Arthur Ramos (1938) em seu artigo afirma que nas cidades, os castigos de açoites eram feitos publicamente, nos pelourinhos[8]. O espetáculo era anunciado publicamente pelos rufos do tambor. Era grande a multidão que se reunia na praça do pelourinho para assistir ao látego do carrasco abater-se sobre o corpo do próprio escravo condenado, que ali ficava exposto á execração pública. A multidão excitava e aplaudia, enquanto o chicote abria estrias de sangue no dorso nu do negro escravo para servir de exemplo aos demais.
No período da escravidão no Brasil, costumava dizer que para o escravo são necessários três P, a saber, pau, pão e pano. E posto que comecem mal, principiando pelo castigo que é o pau, contudo, provera a Deus que tão abundante fosse o comer e o vestir como muitas vezes é o castigo, dado a qualquer causa pouco provada ou levantada e com instrumentos de muito rigor, ainda quando os crimes são certos de que se não usa nem com os brutos animais, fazendo algum senhor mais caso de um cavalo que meia dúzia de escravos (NEVES, 1996, p. 92).

Fonte:http://www.webartigos.com/articles/22470/1/Escravidao-Castigos-sofridos-pelos-escravos/pagina1.html#ixzz1OvzdVhzJ

O castigo enquanto ritual das práticas senhoriais

O castigo do escravo infrator apresentava-se como parte do "governo econômico dos senhores", aliados ao trabalho excessivo e ao alimento insuficiente. Mas o poder do senhor sobre o escravo não visava destruí-lo, mas, sim, otimizar sua produção econômica e diminuir sua força política. É justamente o perigo da perda de funcionalidade do sistema de dominação do senhor sobre o escravo que fez com que a punição senhorial fosse agente político, manifestando-se e se reativando na punição do escravo faltoso (LARA, 1988, p.116).
O reconhecimento social da prática dos castigos de escravos, no entanto, esbarrava na questão da justiça e da moderação, pois somente aplicado nessas condições corresponderia ao que dele se esperava: a disciplina e a educação. A punição injusta e excessiva provocava, por seu turno, descontentamento e revolta. Punir o escravo que houvesse cometido uma falta, não só era um direito, mas uma obrigação do senhor. Isso era reconhecido pelos próprios escravos, mas não quer dizer que os castigos eram aceitos, ou seja, por intermédio dos castigos, caberia a tarefa de educar seus cativos para o trabalho e para a sociedade (LARA, 1988, p. 60-61).
Para a repreensão dos escravos considerados criminosos, havia duas justiças paralelas: a oficial, representada pela máquina judiciária, baseada no livro das Ordenações Filipinas[2], que previa duras penas como morte e degredo e a privada, praticada pelos senhores (APOLINÁRIO, 2000, p. 103).
Um departamento da Casa de Correção era apropriado ao castigo dos escravos, que para lá eram mandados a fim de serem punidos por desobediência ou por faltas pequenas. Os escravos eram recebidos a qualquer hora do dia ou da noite e retidos em livros[3] de despesas o tempo que os senhores desejassem (KIDDER e FLETCHER, 1941, p. 173).
Segundo a autora Emilia Viotti da Costa, (1998), nas fazendas o progresso era muito mais lento do que nas cidades. Os conselhos reiterados aos fazendeiros para que fossem benevolentes e moderados nas penas aplicadas aos escravos sugerem os excessos cometidos na solidão das fazendas e que a crônica do tempo confirma. Nas cidades a lei intervinha, regulava e fiscalizava já nas fazendas, porém, a vontade do senhor decidia e os feitores executavam. Não que a maioria dos feitores fosse necessariamente recrutada entre os que gostavam de "dar pancadas". Os critérios de avaliação das penas e de aplicação dos castigos ficavam quase sempre ao arbítrio do senhor, mas sua execução dependia da índole dos feitores e estes, não raro, se excediam ao aplicá-los.
Como espetáculo, o castigo fazia parte de um ritual e era um elemento de liturgia punitiva que deixava a vítima infame de si e ostentava a todos o triunfo do poder senhorial visando simbolizar, no momento de sua execução, a lembrança da natureza do crime estabelecendo entre o suplício e o crime relações decifráveis, na certeza de anular o crime junto com o culpado (FOUCALT, 1987, p. 31).
Fonte: Castigos-sofridos-pelos-escravos http://migre.me/51W6Q

1.5. A resistência e os quilombos

1.5. A resistência e os quilombos
Apesar da dominação religiosa, dos castigos e de várias outras formas de torturas a que estavam submetidos os escravos, estes não eram passivos à própria situação e sempre que podiam, resistiam.
Para Pinto (1992, p. 87), é um erro histórico imaginar que o negro era uma pessoa que aceitasse a escravidão e que não tivesse procurado formas de se libertar e, por mais que o branco dominador o colocasse como “coisa”, ele era uma pessoa com sentimentos sonhos e vontade de mudar.
Durante todo o período da escravidão no Brasil, os escravos se revoltaram e criaram várias formas de resistência, individuais e coletivas. Os atos isolados contra a escravidão iam desde a resistência ao trabalho, esforçando-se menos (fazendo “corpo mole”), fugas, tentativas de assassinato contra feitores e senhores e até o suicídio.
As fugar eram, na visão do escravo, a maneira mais simples e rápida de se libertar. Mas era um recurso extremamente perigoso e inglório, pois havia sempre a possibilidade de se recapturado, além do fato de não ter para onde ir, pois sua própria cor o denunciava e a falta de trabalho o levava a virar assaltante, facilitando ainda mais sua captura.
A “caça” aos escravos fugitivos era tão frequente que deu origem a uma nova profissão, a de capitão-do-mato, geralmente homens brancos pobres, mulatos, negros libertos e até mesmo escravos que recebiam indenizações para entregar negros fugitivos ao seu dono.
O suicídio era a forma mais extremada de libertação e, geralmente, ocorria após uma tentativa de assassinato fracassada, por medo de ser castigado ou devido à depressão diante das péssimas condições de vida ou pelo descumprimento de uma alforria prometida.
As formas coletivas de resistência eram mais organizadas e mais bem sucedidas e incluiam as revoltas, atentados contra senhores e feitores, cantos, danças, e a fuga em grupos para os matos e sertões onde organizavam quilombos ou mocambos.
Os quilombos, comunidades independentes de escravos fugidos, eram vistos pelas autoridades como afronta e mau exemplo para os outros escravos e por isto mesmo eram procurados insistentemente e, quando encontrados, eram completamente destruídos e seus líderes assassinados.
No período colônia existiram milhares de médios e grandes quilombos, sendo que o mais famoso foi o “Quilombo dos Palmares”, formado em 1610, em Alagoas, chegando a ter uma população estimada em 30 mil pessoas. Havia inclusive, quilombos liderados por mulheres, destacando-se o “Quilombo Quariterê”, no Mato Grosso, comandado pela Rainha Teresa.
Outras formas mais sutis de resistência negra foram a religião e o sexo. Para preservar a memória africana (palavra, música e rituais), os negros relacionavam os santos católicos aos orixás; Assim, Olorum, o orixá da criação, passou a ter a denominação de Deus; Ogum, orixá da guerra, de São Jorge; Iemanjá, deusa das água, a grande mãe, recebeu como correspondente Nossa Senhora da Conceição, entre outros.
Essa união de crenças (sincretismo), utilizada para enganar os senhores e os padres que lhes impunha o catolicismo, deu origem ao candomblé, uma religião afro-brasileira. O candomblé, era realizado nos terreiros dos engenhos à noite. Alguns senhores permitiam essa prática.
Outros, pressionados pelos padres, impediam os rituais negros. Para a Igreja, a persistência nas práticas religiosas africanas representava rebeldia e era punida. Acusados de feitiçaria, bruxaria, magia, os negros eram levados ao Tribunal da Santa Inquisição onde eram julgados e, na maior parte das vezes, condenados.
O ritual do candomblé é muito rico em detalhes. Cada santo ou orixá possui uma comida, uma cor e uma dança específica e o chefe do terreiros chamado de “pai de santo” ou “mãe de santo” (outra denominação proveniente do catolicismo). Tem grande poder sobre os outros membros da comunidade religiosa. Isso garantia uma unidade entre os negros, facilitando sua organização para resistir contra seus senhores.(FERLINI, p. 89, 1984).
Outra forma de resistência silenciosa contra a escravidão era o sexo. As escravas que mantinham relações sexuais com seus senhores utilizavam-se disto para obter algumas vantagens, tais como tratamento privilegiado. Nos casos das que se engravidavam, havia sempre a possibilidade de o senhor libertar seu filho e a ela própria. Além disso, usavam este relacionamento como uma forma de vingança contra a “sinhá”.
Entretanto, nem sempre isto se realizava, pois na maioria das vezes, havia uma senhora ofendida com a traição do marido que usava de sua posição e descontava na escrava, mandando torturá-la cruelmente, e nem sempre os filhos bastardos eram reconhecidos pelos senhores e permaneciam sempre na condição de escravo.

INTRODUÇÃO - O estudo a ser apresentado parte da história e do fruto de reflexões surgidas em torno da identidade cultural brasileira, representada pela raça negra, desde a sua chegada ao Brasíl, a partir de variados fatores que evidenciam a história dessa raça até os dias atuais.

1.4. Violência e castigo
A escravidão esteve sempre associada à violência, pois esta área era a única maneira de motivar um trabalho obrigatório. Os castigos tinham, assim, dupla finalidade: incentivar a produção e impedir rebeliões e fugas. A intensidade da punição dependia da falta cometida pelo escravo, sendo que os castigos mais severos eram aplicados para servir de exemplos e impedir novas “rebeldias”.
Os escravos trabalhavam de 15 a 18 horas diárias, em atividades repetitivas e cansativas sempre sob a vigilância do feitor, que organizava o trabalho e aplicava os castigos. Devido ao excesso de trabalho e castigos, a vida útil dos escravos não ultrapassava dez anos.
[...] Quase, receio exprimir o modo desumano e impiedoso que se usa para com esses desgraçados cativos, pois, ainda mais do que compaixão, despertam repulsa. Eram de tal forma torturados no trabalho assíduo que lhes era marcado que, ainda quando o mesmo excedia suas forças, se alguém ousasse de executar, no tempo prescrito, o que havia sido determinado, era amarrado e garroteado, na presença de todos os outros escravos reunidos, e o feitor ordenava ao mais forte e vigoroso escravo, que desse, sem interrupção, no faltoso, duzentas a trezentas chicotadas, desde a planta dos pés até a cabeça, de sorte que ousassem gritar ou gemer, sob a pena de receber em dobro.[...].(MOUREAU E BARO. 1999, p. 34-5)
Os escravos que tentavam fugir eram marcados a ferro como o “F” de fujão, recebiam açoites nos troncos (50 a 100 golpes por dia) e eram condenados a usar uma correntes de ferro no pescoço (gargalheira) para impedir novas tentativas de fuga. Os que tentavam (e principalmente quando conseguiam) assassinar feitores, senhores e seus familiares, recebiam normalmente a pena de morte por enforcamento.
Várias outras formas de castigo eram aplicadas, tais como o bacalhau (chicote), a palmatória, a máscara de ferro (para impedir que ele comesse durante o trabalho), golinha (argola que prendia o escravo pelo pescoço a um poste), a peia (ferro ou madeira que prendia os pés e mão dos escravos), correntes, algemas, casas de tronco e o pelourinho.
Além da violência física, os africanos sofriam uma profunda agressão à sua cultura. Arrancados de seu meio natural e social, atirados em uma terra de língua, religião e hábitos desconhecidos, os africanos encontravam todas as dificuldades para manter sua identidade cultural. Conservar suas tradições era uma forma de resistir à violência e dominação dos brancos. (Lima, 2005, p. 2004).