sexta-feira, 10 de junho de 2011

1.5. A resistência e os quilombos

1.5. A resistência e os quilombos
Apesar da dominação religiosa, dos castigos e de várias outras formas de torturas a que estavam submetidos os escravos, estes não eram passivos à própria situação e sempre que podiam, resistiam.
Para Pinto (1992, p. 87), é um erro histórico imaginar que o negro era uma pessoa que aceitasse a escravidão e que não tivesse procurado formas de se libertar e, por mais que o branco dominador o colocasse como “coisa”, ele era uma pessoa com sentimentos sonhos e vontade de mudar.
Durante todo o período da escravidão no Brasil, os escravos se revoltaram e criaram várias formas de resistência, individuais e coletivas. Os atos isolados contra a escravidão iam desde a resistência ao trabalho, esforçando-se menos (fazendo “corpo mole”), fugas, tentativas de assassinato contra feitores e senhores e até o suicídio.
As fugar eram, na visão do escravo, a maneira mais simples e rápida de se libertar. Mas era um recurso extremamente perigoso e inglório, pois havia sempre a possibilidade de se recapturado, além do fato de não ter para onde ir, pois sua própria cor o denunciava e a falta de trabalho o levava a virar assaltante, facilitando ainda mais sua captura.
A “caça” aos escravos fugitivos era tão frequente que deu origem a uma nova profissão, a de capitão-do-mato, geralmente homens brancos pobres, mulatos, negros libertos e até mesmo escravos que recebiam indenizações para entregar negros fugitivos ao seu dono.
O suicídio era a forma mais extremada de libertação e, geralmente, ocorria após uma tentativa de assassinato fracassada, por medo de ser castigado ou devido à depressão diante das péssimas condições de vida ou pelo descumprimento de uma alforria prometida.
As formas coletivas de resistência eram mais organizadas e mais bem sucedidas e incluiam as revoltas, atentados contra senhores e feitores, cantos, danças, e a fuga em grupos para os matos e sertões onde organizavam quilombos ou mocambos.
Os quilombos, comunidades independentes de escravos fugidos, eram vistos pelas autoridades como afronta e mau exemplo para os outros escravos e por isto mesmo eram procurados insistentemente e, quando encontrados, eram completamente destruídos e seus líderes assassinados.
No período colônia existiram milhares de médios e grandes quilombos, sendo que o mais famoso foi o “Quilombo dos Palmares”, formado em 1610, em Alagoas, chegando a ter uma população estimada em 30 mil pessoas. Havia inclusive, quilombos liderados por mulheres, destacando-se o “Quilombo Quariterê”, no Mato Grosso, comandado pela Rainha Teresa.
Outras formas mais sutis de resistência negra foram a religião e o sexo. Para preservar a memória africana (palavra, música e rituais), os negros relacionavam os santos católicos aos orixás; Assim, Olorum, o orixá da criação, passou a ter a denominação de Deus; Ogum, orixá da guerra, de São Jorge; Iemanjá, deusa das água, a grande mãe, recebeu como correspondente Nossa Senhora da Conceição, entre outros.
Essa união de crenças (sincretismo), utilizada para enganar os senhores e os padres que lhes impunha o catolicismo, deu origem ao candomblé, uma religião afro-brasileira. O candomblé, era realizado nos terreiros dos engenhos à noite. Alguns senhores permitiam essa prática.
Outros, pressionados pelos padres, impediam os rituais negros. Para a Igreja, a persistência nas práticas religiosas africanas representava rebeldia e era punida. Acusados de feitiçaria, bruxaria, magia, os negros eram levados ao Tribunal da Santa Inquisição onde eram julgados e, na maior parte das vezes, condenados.
O ritual do candomblé é muito rico em detalhes. Cada santo ou orixá possui uma comida, uma cor e uma dança específica e o chefe do terreiros chamado de “pai de santo” ou “mãe de santo” (outra denominação proveniente do catolicismo). Tem grande poder sobre os outros membros da comunidade religiosa. Isso garantia uma unidade entre os negros, facilitando sua organização para resistir contra seus senhores.(FERLINI, p. 89, 1984).
Outra forma de resistência silenciosa contra a escravidão era o sexo. As escravas que mantinham relações sexuais com seus senhores utilizavam-se disto para obter algumas vantagens, tais como tratamento privilegiado. Nos casos das que se engravidavam, havia sempre a possibilidade de o senhor libertar seu filho e a ela própria. Além disso, usavam este relacionamento como uma forma de vingança contra a “sinhá”.
Entretanto, nem sempre isto se realizava, pois na maioria das vezes, havia uma senhora ofendida com a traição do marido que usava de sua posição e descontava na escrava, mandando torturá-la cruelmente, e nem sempre os filhos bastardos eram reconhecidos pelos senhores e permaneciam sempre na condição de escravo.

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